“Sobretudo, sê a ti próprio fiel.” Esta afirmação é o ponto alto da famosa lista de conselhos dados por Polônio na peça Hamlet, de Shakespeare. Estritamente falando, significa ser verdadeiro consigo mesmo e não fazer algo que você, por dentro, sinta ser errado. Na verdade, significa ter a consciência limpa, ainda que o mundo inteiro duvide de você. Significa uma alegria e uma força interior que valem todos os tesouros do universo.
A consciência não é o único companheiro de nosso ser que precisamos cuidar. Há uma multidão composta por: um grupo de desejos à espreita; outro de tendências meio adormecidas; e toda uma companhia de desejos vibrantes. Para sermos fiéis a nós mesmos, não adianta empurrarmos para o lado estes companheiros de viagem que iniciaram a vida conosco. Temos que lhes dar um pouco de atenção, pelo menos, se não quisermos perde o jogo da vida. Talvez um dos companheiros precise de algemas: quem sabe apetites desmedidos, a inveja, ou outro que possa sufocar nosso crescimento ou ferir o próximo. Alguns, como os desejos egoístas, podem precisar de fortes doses de conselhos e de tratamento. Existem outros que são suficientemente seguros para merecer nossa confiança ou, pelo menos, para ser tolerados, como os instintos sociais e o instinto de conservação. Há uns poucos que precisam ser cultivados intencionalmente: as tendências favoráveis; o espírito de reverência e de serviço; o amor pela verdade. Temos que cuidar adequadamente de cada uma dessas tendências, pois é assim que se educa o ser interior.
Em outras palavras, temos que ser fiéis a nós mesmos não no sentido de oferecer flores a todas as tendências que tivermos, mesmo as mais grosseiras, e sim no sentido de reconhecer o lugar que cada uma ocupa no mapa de nossa vida, verificando e subjugando, ou guiando e dirigindo, as tendências da mencionada multidão, de modo a fazer com que cada uma contribua para o bem-estar e para a felicidade geral do todo.
Embora algumas tendências tenham sido citadas de forma geral, elas representam só uma pequena parte da multidão em potencial – cada indivíduo reúne seu próprio grupo de tendências. Na infância, a multidão permanece em quantidade desconhecida no fundo da personalidade. O progresso da expressão da personalidade ocorre quando as tendências vão se tornando conhecidas, sendo acrescentadas ou banidas da vida do indivíduo.
Trecho do livro O Romance com Deus (página 308),
de Paramahansa Yogananda
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